Megumi Hayashibara no centro de uma controvérsia inesperada

Fãs de anime sabem que Megumi Hayashibara é uma lenda viva, principalmente por dar voz à icônica Rei Ayanami em Neon Genesis Evangelion. Mas em junho de 2025, a dubladora japonesa se viu envolvida em uma polêmica online que mexeu com a comunidade otaku e além.

O post que acendeu a discussão

Em seu blog oficial no Ameblo, Hayashibara publicou um texto intitulado “Indiferença, ignorância e desconhecimento”. Nele, ela usou a metáfora de “espécies invasoras” para falar sobre preocupações envolvendo turistas estrangeiros e questões estudantis no Japão.

Ela criticou a diferença no tratamento financeiro entre estudantes japoneses e estrangeiros, apontando que enquanto alguns estudantes internacionais recebem bolsas gratuitas e incondicionais, os estudantes japoneses acabam dependendo de empréstimos que precisam ser pagos, ou seja, dívidas.

Essa fala toca num debate real no Japão, onde dados da Japan Student Services Organization (JASSO) mostram que a maior parte do auxílio para estudantes locais é via empréstimos, enquanto bolsas para estrangeiros, inclusive do Ministério da Educação (MEXT), podem ser bolsas integrais.

Preocupação com a identidade japonesa e o turismo

Hayashibara pediu que os japoneses se engajem politicamente e votem, alertando que, se nada mudar, a “japonesidade” do país — seus costumes, tecnologia e até mesmo o anime como forma de expressão livre — pode se perder.

Ela também mencionou problemas causados pelo turismo excessivo, citando turistas que não respeitam o conceito de “ceder passagem” e até pessoas que vandalizam bambus em Kyoto. A situação das cidades turísticas japonesas, especialmente Kyoto, tem sido delicada devido ao excesso de visitantes e o impacto na infraestrutura e cultura local.

O ponto mais controverso foi a comparação do Japão com o “lagostim japonês sendo devorado por uma espécie invasora”, uma metáfora que muitos interpretaram como uma crítica depreciativa aos estrangeiros. Essa frase viralizou nas redes sociais, gerando acusações de xenofobia contra a dubladora.

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Megumi Hayashibara

Defesas, esclarecimentos e pedido de desculpas

Fãs e apoiadores de Hayashibara argumentaram que suas palavras foram tiradas de contexto, afirmando que a intenção dela era chamar atenção para a apatia dos japoneses diante de problemas internos, e não criticar estrangeiros.

Ela mesma afirmou que não queria criticar nenhum país específico e que, se o Japão se esgotar internamente, não será mais possível manter o nível de omotenashi (hospitalidade) oferecido aos visitantes.

Além disso, a dubladora editou seu post original para remover uma parte que comentava sobre política coreana, após ser alertada por um amigo coreano de que suas palavras poderiam inflamar divisões políticas naquele país. Ela pediu desculpas a quem pudesse ter se sentido ofendido.

Trechos traduzidos do post editado

Será que isso... está realmente ok?

Estou realmente preocupada.

Quando destaquei um YouTuber coreano, um amigo da Coreia me avisou que há um conflito político intenso entre direita e esquerda lá, e que minhas palavras poderiam ser mal interpretadas, causando mais divisão. Fui repreendida por "alimentar um conflito desnecessário". Se alguém se sentiu magoado, peço desculpas e removi essa parte do texto.

O que eu queria dizer é que é muito triste ver o Japão tão indiferente aos seus próprios problemas, a ponto de até falar sobre eles ser recebido com ceticismo.

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Sem arroz??? No Japão???

Auxílio gratuito e incondicional para alguns estudantes estrangeiros.

Mas para estudantes japoneses, são bolsas que precisam ser pagas, ou seja, dívidas.

Isso revela uma verdade distorcida. Não podemos deixar para os outros; precisamos votar. Não dá mais para usar frases como "não importa" ou "nada vai mudar".

Se continuarmos assim, a "japonesidade" do Japão — nossos modos, nossa atitude, nossa tecnologia e talvez até nosso anime como forma de expressão livre — será perdida (>人<;).

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Enquanto isso, há pessoas em hospedagens privadas sem educação, turistas que não entendem o conceito de "ceder passagem" e até quem risca bambu em Kyoto. Se não houver regras e fiscalização, estaremos em apuros.

Será como o lagostim japonês sendo devorado por uma espécie invasora. Por exemplo, regras não escritas, como formar fila para comprar algo, desaparecerão.

Não estou criticando nenhum país específico.

Será que os impostos do Japão não deveriam ser "primeiramente" para quem os paga (incluindo residentes estrangeiros que pagam impostos)? Será que pensar que os impostos devem ser usados para áreas afetadas por desastres e para estudantes que sustentam o Japão é exclusão? Se o Japão se esgotar internamente, não poderemos mais oferecer "omotenashi".

O problema dos fundos escusos é maior, mas...

Enfim, para quem tem direito a voto (a partir dos 18 anos), por favor, reflitam sobre isso.

Fazer declarações políticas é difícil, como eu imaginava.

Até 9 de junho de 2025, não houve nenhuma declaração oficial da agência de Hayashibara sobre a controvérsia.

Reações da comunidade otaku e debates nas redes sociais

A repercussão do post de Megumi Hayashibara não ficou restrita a círculos políticos ou acadêmicos; a comunidade otaku rapidamente entrou em ebulição. Muitos fãs expressaram surpresa e decepção, já que Hayashibara é vista como uma figura quase intocável no universo dos animes, especialmente por seu papel em Evangelion, que é um marco cultural para gerações de fãs.

Nas redes sociais, hashtags relacionadas ao nome da dubladora começaram a circular, dividindo opiniões. De um lado, havia quem defendesse que a crítica dela era legítima e necessária, apontando para problemas reais de políticas públicas e a necessidade de maior engajamento político entre os jovens japoneses. Do outro, muitos acusaram a atriz de perpetuar estereótipos xenofóbicos e de usar uma linguagem que poderia alimentar o preconceito contra estrangeiros residentes e turistas.

Um ponto que chamou atenção foi a discussão sobre o papel dos estrangeiros no Japão, especialmente em um país que enfrenta uma crise demográfica severa, com uma população envelhecida e uma baixa taxa de natalidade. Muitos argumentam que o Japão precisa abrir mais suas portas para trabalhadores e estudantes internacionais para manter sua economia e inovação, enquanto outros temem que isso possa afetar a identidade cultural tradicional.

Contexto histórico e cultural da "japonesidade" em debate

O conceito de "japonesidade" (日本らしさ, nihon rashisa) é complexo e multifacetado, envolvendo tradições, valores sociais, língua e até mesmo a forma como o Japão se apresenta ao mundo. A preocupação de Hayashibara com a preservação dessa identidade não é inédita; ao longo das últimas décadas, vários intelectuais e artistas japoneses têm discutido como a globalização e o turismo em massa impactam a cultura local.

Por exemplo, cidades como Kyoto e Nara, famosas por seus templos e jardins históricos, enfrentam desafios para equilibrar a preservação do patrimônio com a demanda turística. O fenômeno conhecido como "overtourism" tem causado desde o aumento do custo de vida para moradores locais até a degradação ambiental e cultural.

Além disso, a metáfora do "lagostim japonês" sendo devorado por uma espécie invasora remete a debates ecológicos reais no Japão, onde espécies não nativas têm causado desequilíbrios ambientais. Essa analogia, embora controversa, reflete uma preocupação mais ampla sobre a sustentabilidade cultural e social do país.

Impacto na imagem pública de Megumi Hayashibara

Megumi Hayashibara sempre foi admirada não só por sua voz única, mas também por sua postura reservada e profissional ao longo da carreira. Essa polêmica, portanto, representa um momento delicado para sua imagem pública. Alguns especialistas em comunicação destacam que figuras públicas, especialmente aquelas ligadas a franquias amadas como Evangelion, precisam ter cuidado redobrado ao abordar temas sensíveis.

Por outro lado, há quem veja a coragem dela em expressar opiniões pessoais como um sinal de autenticidade, algo raro no mundo do entretenimento japonês, onde celebridades costumam evitar assuntos políticos para não alienar fãs.

Comparações com outras controvérsias envolvendo celebridades japonesas

Não é a primeira vez que uma personalidade do mundo do entretenimento japonês se envolve em polêmicas relacionadas a comentários sobre estrangeiros ou política. Em 2023, por exemplo, um famoso mangaká foi criticado por declarações consideradas insensíveis sobre imigração, o que gerou debates acalorados sobre liberdade de expressão versus responsabilidade social.

Esses episódios mostram como o Japão ainda está navegando por águas turbulentas quando o assunto é multiculturalismo e integração social, especialmente em um cenário onde a cultura pop japonesa tem alcance global e influencia milhões de pessoas.

O papel dos fãs na construção do diálogo

Para os fãs de anime e mangá, essa controvérsia levanta questões importantes sobre como separar a arte do artista e como lidar com opiniões pessoais que podem ser polêmicas. Será que é possível continuar admirando o trabalho de Hayashibara sem concordar com suas opiniões? Como a comunidade otaku pode contribuir para um debate mais saudável e inclusivo?

Alguns grupos de fãs começaram a organizar fóruns online para discutir o tema, buscando entender melhor as nuances da situação e promover o diálogo entre diferentes perspectivas. Essa iniciativa mostra que, mesmo em meio a controvérsias, a cultura otaku pode ser um espaço de reflexão e crescimento.

Possíveis desdobramentos futuros

Com a polêmica ainda em andamento, resta observar se Megumi Hayashibara fará novas declarações ou se sua agência tomará alguma posição oficial. Além disso, o impacto dessa discussão pode influenciar outras figuras públicas e até políticas relacionadas a turismo, imigração e educação no Japão.

Enquanto isso, fãs e críticos continuam atentos, acompanhando cada movimento e repercussão, conscientes de que essa não é apenas uma questão de opinião pessoal, mas um reflexo das tensões sociais que o Japão enfrenta atualmente.

Com informações do: Anime Hunch