Você sabia que a França, um dos maiores mercados de mangá fora do Japão, está intensificando a luta contra a pirataria? Em 23 de julho de 2025, um tribunal francês ordenou o bloqueio do famoso site de pirataria de mangás Japscan, após uma ação judicial do Syndicat national de l'édition (SNE) e nove editoras importantes, como Casterman, Crunchyroll, Delcourt, Glénat, Kana, Ki-oon (AC Média), Kurokawa, Panini e Pika.
Japscan e o impacto da pirataria na França
Japscan era especializado em quadrinhos asiáticos, incluindo mangá, manhwa e manhua, oferecendo quase 13.000 títulos não licenciados e atraindo mais de 690.000 visitantes únicos por mês só na França. Esse bloqueio representa um passo importante na tentativa do país de seguir os passos dos editores japoneses no combate à pirataria.
O que dizem os números sobre a pirataria de mangá na França?
Um estudo do Mangas.io de 2025 revelou que 83% dos leitores de mangá na França acessam sites piratas. Além disso, as editoras registraram uma queda de 9,3% no volume de vendas do setor em 2024, um sinal claro de que a pirataria está afetando o mercado.

Loja Kinokuniya de mangás (imagem ilustrativa)
O mangá é um verdadeiro sucesso na França. Um relatório de 2021 apontou que 40% do mercado de quadrinhos francês é ocupado por mangás japoneses. Lançamentos recentes, como Kagurabachi, geraram bastante hype entre os fãs locais. Por isso, a queda nas vendas por causa da pirataria é vista como um grande obstáculo para o crescimento do setor.
Reação das editoras e próximos passos
Vincent Montagne, presidente do SNE, afirmou que a organização está na linha de frente contra a pirataria. Essa ação judicial veio após duas vitórias recentes que bloquearam o site Z-Library, reforçando o compromisso do sindicato em defender os direitos autorais.
Benoit Pollet, presidente do grupo de mangá do SNE, destacou que todas as editoras estão unidas nessa ação inédita. O objetivo é conscientizar os cerca de 7 milhões de leitores de mangá na França sobre os danos causados por essas práticas ilegais.
O SNE também revelou que essa medida faz parte de uma estratégia maior para combater sites falsificados, independentemente do tamanho ou organização, que prejudicam as plataformas legais.
Após a decisão, o SNE está pedindo mais poderes para combater a pirataria de forma eficaz. A entidade quer que organizações profissionais possam usar a ARCOM, órgão regulador francês de telecomunicações, para estender ordens judiciais de bloqueio a novos domínios e sites espelho que surgirem após a decisão.
Além disso, o sindicato ressaltou a necessidade urgente de revisar o Artigo L.331-27 do Código de Propriedade Intelectual para eliminar suas limitações atuais.
Na declaração oficial, o SNE afirmou que a pirataria de livros prejudica a remuneração de criadores e editoras, ameaça todo o ecossistema do livro, incluindo livreiros, e compromete a diversidade cultural.
Fonte: Declaração oficial do SNE
Como a pirataria afeta os criadores e o mercado legal
Quando falamos de pirataria, é fácil pensar apenas no prejuízo financeiro imediato para as editoras. Mas o impacto vai muito além disso. Criadores de mangá, que muitas vezes trabalham sob contratos rígidos e prazos apertados, veem sua remuneração diretamente ameaçada. Sem o retorno financeiro adequado, projetos promissores podem ser cancelados ou nunca sair do papel.
Além disso, a pirataria cria um ciclo vicioso: leitores acostumados a consumir conteúdo ilegal tendem a não valorizar o trabalho por trás das obras, o que dificulta a expansão do mercado legal. Plataformas oficiais, como Crunchyroll Manga e VIZ Media, investem pesado em traduções de qualidade, lançamentos simultâneos e suporte aos autores, mas enfrentam dificuldades para competir com o acesso gratuito e imediato dos sites piratas.
Exemplos internacionais e lições para a França
O Japão, epicentro do mangá, já enfrenta essa batalha há anos. Em 2023, o governo japonês reforçou leis antipirataria e colaborou com provedores de internet para bloquear sites ilegais. O resultado foi uma redução significativa no tráfego desses sites, embora o problema não tenha desaparecido completamente.
Na Coreia do Sul, onde o manhwa é extremamente popular, medidas semelhantes foram adotadas, incluindo campanhas educativas para conscientizar os leitores sobre os danos da pirataria. Essas ações mostraram que a combinação de repressão legal e educação do público é essencial para mudanças duradouras.
Para a França, que tem uma comunidade otaku apaixonada e crescente, esses exemplos internacionais servem como um guia. A união das editoras locais com as internacionais, aliada a políticas públicas eficazes, pode criar um ambiente mais saudável para o mercado de mangás.
O papel dos fãs e da comunidade otaku
É impossível falar de pirataria sem mencionar o papel dos fãs. Muitos recorrem a sites piratas por falta de opções acessíveis ou pela demora nos lançamentos oficiais. Por isso, a comunidade otaku tem um papel fundamental na mudança desse cenário.
Participar de campanhas de conscientização sobre a importância de consumir conteúdo legal.
Valorizar e apoiar editoras e plataformas oficiais, mesmo que isso signifique pagar um pouco mais.
Divulgar e recomendar fontes legítimas para amigos e grupos de fãs.
Além disso, eventos como a Japan Expo em Paris e outras convenções são oportunidades para fortalecer essa cultura de respeito aos direitos autorais, mostrando que o apoio ao mercado legal é também uma forma de garantir mais mangás e qualidade para todos.
Enquanto isso, o debate sobre como equilibrar o acesso fácil e rápido com a proteção dos direitos autorais continua aberto, e a França parece estar disposta a liderar essa conversa na Europa.
Com informações do: Anime Hunch