Você já se perguntou como é o processo de transformar um mangá em um anime que mistura horror e emoção? Na última sexta-feira, no Anime Expo 2025, tivemos a estreia norte-americana de The Summer Hikaru Died, adaptação do mangá de Mokumokuren, e foi uma experiência que deixou todo mundo vidrado.

Estreia e painel com o elenco e produtores

Com cerca de 2.000 fãs na plateia, o evento começou com a exibição do primeiro episódio, intitulado “Replacement”. A história se passa em uma área rural do Japão e gira em torno do estudante Yoshiki Tsujinaka, que começa a desconfiar que seu amigo de longa data, Hikaru, foi substituído por algo que só parece humano. A recepção foi super positiva, com o público imerso na atmosfera tensa e misteriosa.

Depois da exibição, rolou um painel com a criadora Mokumokuren, o dublador do protagonista Chiaki Kobayashi, e os produtores Chiaki Kurakane (KADOKAWA) e Manami Kabashima (CyberAgent). Eles falaram sobre o processo de adaptação, escolhas de elenco e a abordagem única do anime para o horror e a narrativa emocional.

O que a criadora e o elenco revelaram

Mokumokuren contou que participou ativamente da adaptação, decidindo o que poderia ou não ser alterado. “Eu tinha uma ideia clara do que podia mudar e do que absolutamente não deveria,” disse ela. “Mesmo tendo escrito a história, senti que era algo novo.”

Kobayashi, que interpreta Yoshiki, comentou sobre o desafio de dar voz a um personagem que guarda muita ansiedade não dita. “Achei a história fascinante desde a audição, fiquei muito feliz em fazer parte. Yoshiki é alguém que engole muita coisa, e transmitir essa ansiedade silenciosa exigiu um foco diferente,” explicou. Ele ainda destacou o peso de representar uma amizade que parece familiar, mas que já não é segura.

Kurakane explicou que Kobayashi foi escolhido justamente por sua capacidade de expressar as sutilezas emocionais do personagem. “Considerando a delicadeza emocional de Yoshiki, as nuances em seus sentimentos e o crescimento que ele tem, sabíamos que precisávamos de alguém com o alcance do Kobayashi. Depois de conversar com o diretor e a Mokumokuren, foi quase unânime — todos sentimos que ele era a escolha certa.”

Abordagem do horror e cenas marcantes

Manami Kabashima, que já havia falado conosco no AnimeJapan 2025, reforçou no painel que o anime não aposta em sustos barulhentos ou choques repentinos. “Como uma série de horror, não queríamos depender de sons altos ou sustos súbitos para assustar o público. O diretor Takeshita e a equipe da CygamesPictures exploraram um tipo de horror mais silencioso — aquela sensação constante de que algo pode estar ali — usando som, cor e direção de forma expert.”

Mokumokuren destacou uma cena do episódio 1 onde a luz vermelha piscante da polícia reflete visualmente o turbilhão interno de Yoshiki, algo que no mangá era mostrado em texto. “Fiquei impressionada com a forma como o diretor transformou isso em uma expressão puramente visual.”

Kobayashi apontou a frase inicial “Você não é realmente o Hikaru, é?” como um marco tonal importante, que normalmente apareceria no final do episódio, mas aqui já joga o espectador direto no mistério. “O fato de ser dito logo no começo mostra que não será um mistério de construção lenta. Ele te joga na história.”

Expectativas e convite para continuar assistindo

O painel terminou com palavras rápidas dos participantes. Kabashima incentivou o público a continuar acompanhando a série além da estreia. “A história realmente decola depois do episódio 1, espero que vocês fiquem com a gente e aproveitem cada episódio até o fim.” Kurakane comentou sobre a variedade temática da série, que mistura horror, mistério e relações humanas. “Embora seja um horror juvenil, também é um mistério e drama que explora as relações humanas de forma complexa.”

Kobayashi e Mokumokuren expressaram a esperança de que a série ressoe com o público internacional. “Apesar de se passar em uma cidade rural tranquila do Japão, trata de temas que acho universalmente relacionáveis,” disse Kobayashi. Mokumokuren acrescentou: “A adaptação para TV permaneceu fiel ao núcleo da história original, evoluindo para algo ainda mais poderoso através da animação.”

The Summer Hikaru Died está disponível para streaming exclusivo na Netflix desde 5 de julho.

Detalhes técnicos e estilo visual

Um dos pontos que chamou atenção no painel foi a discussão sobre o estilo visual do anime. A equipe técnica optou por uma paleta de cores que reforça o clima sombrio e melancólico da história, com tons frios e sombras profundas que criam uma sensação constante de desconforto. O diretor Takeshita comentou que a inspiração veio de filmes de horror psicológico e do expressionismo alemão, buscando transmitir emoções através do ambiente e da iluminação.

Além disso, a animação aposta em movimentos sutis e enquadramentos que valorizam o silêncio e o vazio, como se o próprio espaço ao redor dos personagens fosse um personagem a mais, carregado de significado. Essa escolha ajuda a construir a tensão sem precisar apelar para efeitos exagerados, o que é raro em animes do gênero atualmente.

O design dos personagens também merece destaque. Mokumokuren explicou que quis manter a aparência simples e realista do mangá, evitando exageros que pudessem tirar a credibilidade da história. "Queríamos que o público sentisse que esses personagens poderiam existir em qualquer cidade pequena do Japão, o que torna o horror ainda mais palpável," disse ela.

Reações dos fãs e impacto nas redes sociais

Logo após a exibição e o painel, as redes sociais foram tomadas por discussões e teorias sobre The Summer Hikaru Died. Muitos fãs destacaram a profundidade emocional da trama e a forma como o anime aborda temas como amizade, identidade e medo do desconhecido. No Twitter, hashtags relacionadas ao anime ficaram entre os assuntos mais comentados do dia, com fãs compartilhando suas cenas favoritas e especulando sobre os próximos episódios.

Alguns fãs também elogiaram a dublagem japonesa, especialmente a atuação de Chiaki Kobayashi, que conseguiu transmitir a complexidade do protagonista de forma muito natural. Outros comentaram sobre a trilha sonora, que, embora discreta, complementa perfeitamente o clima de suspense e melancolia.

Em fóruns especializados, a discussão se aprofundou em comparações com outras obras de horror psicológico, como Paranoia Agent e Serial Experiments Lain. Muitos apontaram que The Summer Hikaru Died consegue se destacar justamente por equilibrar o terror com uma narrativa emocionalmente rica, algo que nem sempre é fácil de encontrar no gênero.

Curiosidades do processo de produção

Durante o painel, Mokumokuren revelou algumas curiosidades sobre o processo de criação do mangá e sua transição para o anime. Ela contou que a ideia inicial surgiu de um sonho que teve, onde sentiu uma presença estranha ao seu lado, algo que a inspirou a explorar o conceito de substituição e identidade.

Outro detalhe interessante foi a escolha do estúdio CygamesPictures para a produção. Segundo Manami Kabashima, a decisão foi baseada na experiência do estúdio em projetos que misturam elementos visuais inovadores com narrativas densas. "Eles entenderam perfeitamente o tom que queríamos passar e trouxeram uma sensibilidade única para a animação," comentou.

Além disso, a equipe técnica fez questão de visitar a região rural que inspirou o cenário do anime para captar detalhes autênticos da paisagem, arquitetura e atmosfera local. Essa pesquisa de campo ajudou a criar um ambiente que parece vivo e palpável, aumentando a imersão do espectador.

O papel da música e do som na construção do clima

A trilha sonora, composta por Yuki Hayashi, foi outro destaque do painel. Hayashi é conhecido por seu trabalho em animes como My Hero Academia e Haikyuu!!, mas aqui ele adotou uma abordagem mais minimalista e atmosférica. "Quis criar uma música que fosse quase um sussurro, algo que acompanhasse o espectador sem dominar a cena," explicou o compositor em uma entrevista exclusiva.

O design de som também merece menção especial. Efeitos como o som do vento, passos distantes e ruídos ambientes foram cuidadosamente mixados para aumentar a sensação de isolamento e tensão. Kabashima ressaltou que o som é uma ferramenta fundamental para o horror silencioso que o anime propõe, e que a equipe passou horas ajustando cada detalhe para alcançar o efeito desejado.

O que esperar dos próximos episódios?

Embora o primeiro episódio tenha sido uma introdução intensa e cheia de mistérios, o painel deixou claro que a série ainda tem muito a revelar. Mokumokuren adiantou que os próximos episódios vão explorar mais profundamente as relações entre os personagens e os segredos obscuros que cercam Hikaru e Yoshiki.

Chiaki Kobayashi também comentou que seu personagem passará por uma evolução significativa, enfrentando dilemas que vão desafiar sua percepção da realidade e da amizade. "É uma jornada emocional que vai mexer com o público, espero que todos estejam preparados para o que vem por aí," disse ele.

Para os fãs que gostam de teorias, o anime promete deixar várias pistas espalhadas, incentivando a participação ativa do público na construção do enredo. A combinação de horror psicológico com drama humano cria um terreno fértil para debates e interpretações diversas.

Com informações do: animecorner