O Choque das Indicações no Emmy e o Silêncio Sobre Squid Game

Fãs de anime, mangá e cultura pop japonesa sabem bem o impacto que uma obra pode ter quando ultrapassa fronteiras e conquista o mundo. Mas e quando uma produção tão grandiosa quanto Squid Game é ignorada em premiações internacionais? Foi exatamente isso que aconteceu na 77ª edição do Emmy Awards, anunciada em 15 de julho de 2025, quando as temporadas 2 e 3 da série sul-coreana foram completamente deixadas de fora das indicações, causando uma tempestade de indignação entre os fãs.

Apesar das críticas que as temporadas receberam, muitos aspectos foram amplamente elogiados, como o design de produção detalhado, cenários artesanais e atuações fortes, especialmente na segunda temporada. A terceira temporada, lançada em 27 de junho, encerrou a trama de forma cativante, mas nem por isso recebeu uma única indicação.

O Contexto das Indicações e a Reação da Comunidade Otaku

Enquanto séries como Severance (com 27 indicações), The Penguin e The White Lotus dominaram a noite, favoritos consolidados como Squid Game, House of the Dragon e The Handmaid’s Tale foram completamente ignorados. Para Squid Game, a queda é brutal: a primeira temporada conquistou 14 indicações e seis vitórias, incluindo prêmios de direção e atuação, enquanto a segunda temporada não recebeu nenhuma indicação, um contraste que chocou a comunidade.

Nas redes sociais, fãs e críticos levantaram acusações de racismo, apontando que a Academia de Televisão parece privilegiar produções em inglês e comédias de nicho, enquanto ignora obras internacionais de alto calibre. A ausência de Squid Game em categorias importantes, como direção de arte, foi vista como um desrespeito à produção e ao impacto cultural global da série.

O Legado de Hwang Dong Hyuk e o Futuro da Representatividade

O diretor Hwang Dong Hyuk, que conquistou um Emmy pela direção do episódio "Red Light, Green Light" da primeira temporada, viu seu legado ser questionado após o boicote da Academia. Seu discurso na época, onde expressou esperança de que Squid Game não fosse a última série não inglesa a ser reconhecida, voltou a repercutir com força.

Park Sung Hoon em Squid Game

Essa situação levanta questões importantes para fãs de cultura pop asiática e otakus: até que ponto as premiações internacionais refletem a diversidade e a riqueza das narrativas globais? Será que o mundo do entretenimento está pronto para abraçar verdadeiramente produções que fogem do eixo ocidental? E, claro, como isso impacta a forma como consumimos e valorizamos obras como Squid Game?

Para os Fãs: O Que Vem Depois do Boicote?

Enquanto a Netflix já enfrentou altos e baixos em indicações ao Emmy, a ausência das temporadas 2 e 3 de Squid Game permanece um ponto sensível para os fãs. A discussão sobre representatividade, reconhecimento e racismo no entretenimento internacional está mais viva do que nunca, e o fandom otaku, acostumado a batalhar por reconhecimento de suas paixões, certamente continuará atento aos próximos capítulos dessa história.

O Impacto Cultural de Squid Game no Universo Otaku

Embora Squid Game não seja um anime ou mangá, seu impacto na cultura pop asiática e global reverbera fortemente dentro da comunidade otaku. A série sul-coreana trouxe à tona temas universais como desigualdade social, desespero e sobrevivência, que também são explorados em diversas obras japonesas, criando uma ponte cultural entre fãs de diferentes mídias. Muitos otakus viram em Squid Game uma narrativa tão intensa e visualmente marcante quanto os melhores animes de suspense e drama psicológico.

Além disso, o estilo visual da série, com seus cenários minimalistas e simbólicos, lembra a estética de animes como Death Note e Psycho-Pass, onde o ambiente é quase um personagem à parte. Essa conexão estética e temática fortalece o interesse dos fãs de anime por produções coreanas, ampliando o espectro do que é considerado “cultura pop asiática” dentro do fandom.

Squid Game snubbed at Emmys

Comparações com Outras Obras Asiáticas Reconhecidas

Outro ponto que gera debate é a forma como outras produções asiáticas são tratadas em premiações internacionais. Por exemplo, o anime Demon Slayer (Kimetsu no Yaiba) e o mangá Attack on Titan (Shingeki no Kyojin) receberam reconhecimento global, mas ainda enfrentam barreiras para serem indicados em categorias tradicionais de premiações ocidentais, que muitas vezes não contemplam animações ou produções não faladas em inglês.

Enquanto isso, séries japonesas como Midnight Diner e Terrace House conquistaram nichos específicos, mas raramente aparecem em grandes premiações. Isso levanta a questão: será que o sistema de premiações está preparado para reconhecer a diversidade e a riqueza das narrativas asiáticas, ou ainda está preso a um viés linguístico e cultural?

O Papel das Plataformas de Streaming na Visibilidade Global

Netflix, Crunchyroll, e outras plataformas de streaming têm sido fundamentais para a popularização de conteúdos asiáticos no Ocidente. Squid Game é um exemplo claro de como uma produção pode se tornar um fenômeno global graças à acessibilidade proporcionada por esses serviços. No entanto, a pressão para que essas plataformas promovam suas séries em premiações tradicionais pode não ser suficiente para garantir reconhecimento justo.

Além disso, o algoritmo de recomendação e a segmentação de público podem criar bolhas que limitam o alcance de certas obras, mesmo que elas tenham potencial para conquistar audiências mais amplas. Para os fãs otakus, isso significa que o engajamento ativo e a divulgação boca a boca continuam sendo essenciais para que séries e animes ganhem o destaque que merecem.

Discussões Sobre Racismo e Exclusão Sistêmica no Entretenimento

As acusações de racismo contra o Emmy não surgem do nada. Elas refletem um problema mais amplo de exclusão sistêmica que afeta não apenas produções asiáticas, mas também outras minorias dentro da indústria do entretenimento. A falta de diversidade nos jurados e a predominância de critérios eurocêntricos para avaliação são frequentemente apontadas como barreiras para o reconhecimento de obras que fogem do padrão tradicional.

Para a comunidade otaku, que muitas vezes se identifica com personagens e histórias que desafiam normas e celebram a diversidade, essa situação é frustrante. Afinal, o fandom é um espaço onde a pluralidade cultural é valorizada e onde a representatividade importa profundamente. A ausência de Squid Game nas indicações pode ser vista como um sintoma dessa resistência ao novo e ao diferente.

O Que Isso Significa Para a Próxima Geração de Criadores Asiáticos?

Para jovens diretores, roteiristas e animadores asiáticos, o boicote a Squid Game pode ser um sinal preocupante, mas também um chamado à ação. A luta por reconhecimento e espaço em premiações internacionais é parte de um movimento maior para que as vozes asiáticas sejam ouvidas e valorizadas em pé de igualdade.

Iniciativas como o aumento da diversidade nos comitês de premiação, o apoio a festivais de cinema e animação asiáticos, e a criação de plataformas dedicadas a conteúdos não ocidentais são passos importantes para mudar esse cenário. Para os fãs, apoiar essas iniciativas e continuar consumindo e divulgando obras asiáticas é uma forma de contribuir para essa transformação.

Enquanto isso, o fandom otaku segue atento, debatendo, compartilhando e celebrando as histórias que amam, mesmo quando o reconhecimento oficial parece tardar. Afinal, a paixão e a comunidade muitas vezes são o que mantém viva a chama da cultura pop asiática no mundo todo.

Com informações do: Koreaboo