Fim do programa de acesso para instituições públicas
A Crunchyroll, gigante do streaming de anime, encerrou seu programa de parceria com bibliotecas, uma decisão que afetará diretamente clubes de anime comunitários e bibliotecas que dependiam desse recurso para realizar exibições públicas. A empresa comunicou a mudança recentemente a um usuário que entrou em contato, afirmando que está explorando "métodos alternativos" para fornecer acesso ao seu serviço.
Mas o que isso significa na prática? Essas instituições agora precisarão buscar outras formas legais de exibir animes, já que as contas gratuitas com anúncios (AVOD) ou assinaturas básicas (Fan Tier) não permitem exibições públicas. "As contas da Crunchyroll são destinadas apenas para uso pessoal e não comercial", esclareceu a empresa.
Reações da comunidade e mudanças recentes
A notícia gerou uma onda de críticas nas redes sociais. Um tweet de Andrew Hodgson, conhecido como Steiner, viralizou ao expressar frustração com a decisão:
Vale lembrar que esta não é a primeira mudança polêmica da Crunchyroll nos últimos meses. A plataforma já havia:
Removido a seção de comentários em julho de 2024
Colocado grande parte do catálogo de One Piece atrás de paywall
Para muitos fãs, essas decisões parecem priorizar o lucro em detrimento da acessibilidade. Afinal, como bibliotecas e grupos comunitários com orçamentos limitados poderão continuar promovendo a cultura anime de forma legal?
Alternativas atuais e possíveis caminhos
Enquanto a Crunchyroll busca seus "métodos alternativos", a solução imediata oferecida foi pouco prática: que cada indivíduo se cadastre no serviço AVOD gratuito ou pague uma assinatura pessoal a partir de US$ 7,99 mensais. Mas isso não resolve o problema das exibições coletivas, já que os Termos de Uso proíbem explicitamente esse tipo de utilização.
O programa descontinuado era justamente a solução licenciada para esse cenário, permitindo que instituições públicas organizassem clubes e sessões de anime legalmente. Sem ele, muitos temem um possível aumento na pirataria ou a simples interrupção dessas atividades comunitárias.
Impacto nas comunidades locais e no acesso à cultura
O fim do programa de acesso institucional atinge especialmente comunidades menores, onde bibliotecas públicas eram muitas vezes o único ponto de contato com a cultura anime. Em cidades do interior ou bairros periféricos, esses espaços funcionavam como centros de descoberta para novos fãs. Sem exibições públicas organizadas, como jovens com menos recursos vão conhecer obras além dos títulos mainstream?
Alguns bibliotecários já compartilham preocupações práticas. "Organizávamos sessões mensais que atraíam de 30 a 50 pessoas, muitas delas adolescentes que depois se tornavam leitores assíduos", conta Mariana Torres, de uma biblioteca municipal em Minas Gerais. "Agora teremos que cancelar esse programa ou arriscar violar os termos de serviço."
O que dizem os termos de serviço atuais
Uma análise detalhada dos Termos de Uso da Crunchyroll revela que a proibição de exibições públicas é mais abrangente do que parece. A seção 4.2 especifica que o conteúdo não pode ser exibido em "locais públicos como bares, restaurantes, escolas ou bibliotecas" sem autorização expressa. A multa por violação pode chegar a US$ 1.000 por ocorrência.
Curiosamente, essa política contrasta com a de outros serviços. A Netflix, por exemplo, oferece licenças especiais para instituições educacionais através do programa Netflix Educational Screenings. Por que a Crunchyroll não mantém um caminho similar?
Possíveis motivações por trás da decisão
Especialistas do setor apontam algumas razões que podem ter levado a essa mudança:
Pressão por rentabilidade: Com a fusão com a Funimation e aquisição pela Sony, há expectativas maiores de retorno financeiro
Controle de licenciamento: Restringir exibições públicas pode ser parte de estratégias para renegociar direitos com estúdios
Mudança no modelo de negócios: O foco parece estar migrando para assinaturas premium e produções originais
Um ex-funcionário da área de parcerias, que preferiu não se identificar, sugeriu que o programa institucional nunca foi prioridade: "Era visto mais como marketing do que como fonte de receita. Com cortes de custos, esses projetos sociais são os primeiros a ir embora."
Enquanto isso, plataformas concorrentes como a HiDive e a RetroCrush mantêm políticas mais flexíveis para exibições não comerciais. Será que veremos uma migração de comunidades para esses serviços? Ou a hegemonia da Crunchyroll no mercado ocidental de anime é grande demais para ser desafiada dessa forma?
Com informações do: Anime Hunch